domingo, novembro 30, 2008

Cristal












Uma rocha; num prado a Aurora,
verdejante planura em cristal.
Leves, tilintam cincelos
doces cânticos de Natal

Contemplo o misticismo das mãos
que pelo rosto de tantos espalham
a preciosidade da via do pão,
sem urdir aleivosia
nem falsa comiseração

Nesta rocha onde me sento –
eremitério de silêncio – secos,
meus olhos jorram unguento
para que a alegria alcance
a face de cada criança
que pelo mundo se estende
e que o fluxo do cristal brilhe,
em infinitude, nas mentes,
para que cada dia seja Natal



imagem de Arbego/Armando
(para o 8º Jogo daqui )

quinta-feira, novembro 06, 2008

como um traço de vento

























Por ela passou, fugaz…
Simbiose perfeita de terra e luar
Como um traço de vento

As palavras rubras alongadas na altura
Sabiamente
Urdiam momentos de espanto e silêncio

Nada sabia
Da aflição da vida
Da criança esquecida entre os trapos do caminho
Omissão de tanta gente
Dos seres cavos que habitam
Flores leves e tímidas
Que hauriam ternamente

Soletrava a crua nudez dos passos
O poço profundo do caos
Sob o nicho das letras miúdas,
Tão cândidas, tão puras,
Em deslizantes ecos no espaço
Da realidade inconsciente

O que dela esperava, não sei,
Se jamais aprofundei o mistério
Que em capa se estende
Nos cintilantes olhos de ténue gente


(imagem de Henri Gervex)