sexta-feira, outubro 31, 2008

Três tempos






















Sobre os telhados das casas
O mundo dança
Em falaz sintonia
Qual bailarino-equilibrista
Lançando raios na escuridão

Do amor menor,
Galanteio em tempos idos,
Vivenciámos a capitulação
Num reino de fausta mentira

O amanhã, em harmonia
Será tecido nos alinhavos –
Esforço de longos dias –
Da liberdade, da luz da vida
Num unívoco sentimento
E sob os telhados das casas
Bailarão sorrisos amenos
No gesto leve da rama
Em marés dúcteis e calmas

Assim se queira… Assim se faça…


(imagem de Alfred Gockel)

(minha participação no 7º jogo daqui )

quarta-feira, outubro 22, 2008

Estado das coisas














Neste estado de coisas singelas
De facilidades mútuas
Premeditados erros são acasos
No trajecto usual da lua

Quando se fecha uma porta
Além, janelas se abrem
Entregando do vento norte
As areias em voragem

Revolto, o mar se modera
Pelos contos inacabados
Tão fáceis, doces e breves
Se a vida que se leva
Desliza para outro lado

As coisas seguem correndo
Embotando singelos pecados
E na futilidade que se dita
Suave, adormecem os enganos
De um presente… passado
Na obscuridade deste estado
De coisas dóceis e leves


(imagem de Jorge Oliveira)

domingo, outubro 05, 2008

60 em sol e azul-mar























Breve, tão breve
Este vasculhar do corpo da palavra

Breve, tão leve
No casulo, o nefelibata se fez criança
Na fusão das flores, luar e da água
Pelo avassalador ostracismo das raízes em rosácea
Qual silhueta amena e cândida

Breve, tão ténue
O conselheiro exponente da morte, da loucura, do lodo
Tecia, degrau a degrau, um inferno de sombra
Com pena de chocolate
Com o erodido e variável método do sobressalto
Pela vulnerabilidade da obstrução
Em forma de tapeçaria sobre a caixa de cal e vida
Em contínuo movimento

Breve, tão breve
Pensa-se afastar o vapor envolvente
Da conversa em tempestade
Sobre o distanciamento amortecido num país sem farol
A inundar de orvalho em linha vertical

Mas o poeta, apoiado no cotovelo,
Desponta a manhã
Num intenso, imenso divagar
Fazendo emergir da viagem
Pelo céu das letras amenas
Um amor maior a comungar

Breve, tão leve
Renasce a palavra de sol e azul-mar
Num sorriso com licença para voar


(pintura de Chagall)

(minha participação do jogo daqui )