segunda-feira, abril 30, 2007
A Consulta
Longo e lento ritual programado em anos
sob a morosidade do pêndulo sustendo cabeças
salpicando ilusões e desenganos.
Passeava pelos corredores apinhados de gente
em romaria parada
e vagueava no sentido das idades indefinidas
sustentadas pela parede qual suporte ansiado
pelos traços de cansaço e na espera entorpecidos.
Horas tecendo o frio…
Resistentes espelhos de dor e mágoa
na previsão dos planos sobrevoados.
Deles, em número, tornava-se parte
nas águas pelo frio adentradas
nas correntes do navio em cais parado
na embriaguez de voláteis asas
esbatidas entre o negro e o verde pálido.
De quando em vez, alguém passava apressado
sob as ideias fixas dos papeis remexidos
com sombria cara.
Então regressava ao ameno poisio do livro
aberto sobre o plástico e escrevia…
Até que uma voz estridente estremecia
o silêncio rumorejado
despertando os cordeiros no espaço fechado.
(pintura de Rogério Ribeiro)
segunda-feira, abril 23, 2007
Paisagem
Encadeiam-se semanas…
Se a contento tudo passa
passará também o vento
na acalmia da brisa silente
Da força que me anima
construo pespontos de asas
e assim vou caminhando
em lentos e serenos passos
sobre casas, navios, escadas
frondosas árvores
que ocasionalmente avisto
sob a brisa marítima orvalhada
jorrando cascatas
na obliquidade escusa dos traços
no paralelismo confuso da matemática
ou no ponto minúsculo do poema
que no nada-tudo observa e cala
Que mais dizer se de um talvez se edificam
muros em escala?
Será porventura um sustento no espaço?
Do tudo apenas sei nada…
Qual ponto mínimo
observo, medito e tento
alcançar sábias palavras
sob a escassez do fio do tempo
Se ainda existo
a serenidade com carinho embalo
num límpido e terno sorriso claro
sobre a paisagem
(pintura de Júlia Calçada)
quinta-feira, abril 19, 2007
quarta-feira, abril 18, 2007
Prémio...
Surpreendida e honrada agradeço à Poesia Portuguesa as palavras e a nomeação deste blogue com o prémio:
Tarefa difícil é-me imposta agora, ao ter de escolher 5 blogues da minha preferência. Todos o são, mesmo aqueles que, por escassez de tempo, ainda não incluí nos links.
Assim sendo distingo, pela enorme qualidade que poderão verificar, os seguintes:
Assim sendo distingo, pela enorme qualidade que poderão verificar, os seguintes:
Manoel Carlos
Nilson Barcelli
Meia Lua
Peter & Cª
António Melenas
Na esperança de que a corrente tenha continuidade, aqui deixo o carinho de um imenso abraço.
Imagem fotoplatforma
Nilson Barcelli
Meia Lua
Peter & Cª
António Melenas
Na esperança de que a corrente tenha continuidade, aqui deixo o carinho de um imenso abraço.
Imagem fotoplatforma
sexta-feira, abril 13, 2007
Les Trois Arts
Assim nos quedamos
no breve relaxamento dos anos
nas horas passadas em pontas
que teus dedos em branco e negro
o meu cetim afagaram
Cúmplices segredos
na postura do silêncio
dos rituais em leves traços
e dos sussurros, os embalos
(resposta ao desafio da Maria a quem agradeço)
Tela de Júlia Calçada
sexta-feira, abril 06, 2007
Venho ...
Venho de um tempo de graciosas asas
pelo silêncio adormecidas quando acamadas
de paredes nuas que ao longe me penduram
rostos inanimados sobre o telhado das árvores
do cume da montanha unido ao umbigo do vale
com pespontos de água sobre a estrada
do seio das mulheres translúcidas
da terra nascidas e da lua sussurradas
do mar, a solidão amanheço a escada
nas miscigenadas vagas de azul e verde
Venho, permaneço e caminho
no amor em branco-prata
a serenidade doce da cantata.
(pintura de Noronha da Costa)
(perante a temporal impossibilidade de visitas a todos desejo uma Feliz Páscoa)
domingo, abril 01, 2007
A indelével certeza
A indelével certeza dos anos encostados à parede
Se em mim cobriu enganos não teceu erros
E dos muros levantados amarelecidos no tempo
Resta a árvore que sustenta os longos fios
De um cabelo em marfim penteado
Que pelos afagos dos dedos
A raiz alimenta
Floresce a dança perene da memória
Em vagas macias, leves
Em laços de rede fina
Ondulando dos anos a hora
De mulher menina que canta
A indelével e alva certeza da brisa
Que anos tece nos cabelos
E te bebo minha hora perdida no tempo
Na leveza deste sentir em contemplação ausente
Quando me sento sob o silêncio das folhas
Em doce acalento
(pintura de Corinna Button)
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