domingo, dezembro 30, 2007

E...











na acalmia da noite floriu a luz …



“As pequeninas coisas” nasceram a 28, estão bem
e estamos muito felizes.
Agradeço-vos o apoio e as carinhosas palavras.
Para vós, meus amigos, um venturoso 2008.


(imagem do Google)

terça-feira, novembro 06, 2007

As pequeninas coisas












Mãe
Escuta a brisa que meu ventre abre
Na terra dos sonhos o canto das pequeninas coisas
De braços estendidos o enlevo do sorriso que as afaga
Aquele murmurejar de água soletrando o rio
Plácido

Mãe
Sente os dois mundos que em mim trago
Saboreando o néctar das coisas invisíveis e cândidas
Entre a música e a leveza da dança
No balanço certo das outonais cores
Em folhas irisadas e suaves

Seis meses, mãe, são caminhados
Na voz das pequeninas coisas
Sob o azul da luz e o verde dos laços


(pintura de Carivano)

Ouvir o poema na voz de Luís Gaspar
(desligar a música de fundo, p.f)

quarta-feira, outubro 24, 2007

Bamboo

































Impulsivas, envolventes, activas
São as palavras escondidas
No barulho líquido da memória
Palavras que pintam casos
Casos excertos de acasos
Cantigas, bailados, histórias

Repercutem por todo o lado
No branco por dentro sentido
Erosão ténue de um passado
Do tempo sem tempo onde habito

Ao longe, o fundo anilado
Me afaga e me acalma
Nos voos de contos contados -
Menina ainda criança -
Refúgio eterno de braços
Esbatidos na distância

E nos bambus coloridos
Cada nó define um traço
Das letras rebeldes, unidas
Pela força que caminha
Na memória líquida dos laços
Carinho de cor que embalo

Impulsivas, envolventes, activas
Na tela em silêncio deslizam
Sob o pincel de meus passos


(pintura de Jane Yechieli)

domingo, outubro 14, 2007

Setembro

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket


Intoxicados são o tempo e a vontade
sob o ar rarefeito dos aromas mortos
em branco adejado no que urge e faz demora
qual contrapeso no degrau compacto das horas

O silêncio esvaziado das vozes em mim cantadas
suave e lentamente dia fora
acarretam saudades dos trinados
em suspensa melodia aquosa

Assim se fez o Setembro da casa em obras

Mas quando as portas da noite se abrem
renasce em malhas de lã a vida
multiplicando mimosas flores nos dedos
onde apenas o amor dá sentido
no profundo sonho infinito
da árvore, do sol – terno aconchego –
etéreo jardim que me abriga


(pintura de Ana Vieira)

Poema in "Transparência se Ser"

sábado, setembro 08, 2007

Hora de ponta


pintura de Cecília Ferreira

Caminha-se na paralisia do tempo
em fragmentos dissipados
e cria-se a oclusão selectiva dos passos
na temperatura metódica da posse
que a luz indirecta tem e que abre
sobre a mesa do pão-nosso de cada dia
em trapos de mármore

No tumulto da hora de ponta
evanesce-se o sorriso
em deambulações automáticas
na superfície vertical dos hiatos
que, das tempestades invisíveis, são tributários
quais vidas em saldo
perante a irracionalidade do mundo
de que tu e eu fazemos parte

Assim desliza o tempo e a vontade.
E aqui, do meu canto,
embalo as frases sofridas
chegadas nas auréolas da chuva
pela Natureza derramadas
na eterna esperança
que Luz se faça


(Breve nota: Ausente por obras em casa
com carinho vos abraço.)


Poema in "Transparência de Ser"

quinta-feira, agosto 30, 2007

Momentos


pintura de Arthur Rackham

Entre o mar e a relva onde me sento
habita um fluir em sussurros verdes
pela rama do parque que guarda e entende;
bifurcada, desliza uma estrada no vórtice do tempo
e, do sentido adverso, em razão suspensa

Quantas vezes pelo silêncio me chegam
nas pontas das folhas ao sopro do vento
amenas melodias
breves excertos de vidas
indizíveis e cálidos momentos

A todos enlaço na vereda dos fonemas
leve, tão leve que o avivar surpreende
o mistério da estrada em cores desperta
que a Natureza me estende
pelas raízes singelas
da infinitude da mente

Em voo suave, um doce sorriso plana
entre ti de mim ausentes
na musical perenidade da palavra


Poema in "Transparência de Ser"

terça-feira, agosto 21, 2007

Passagem


Pintura de Freydoon Rassouli


Avistara-se no poço profundo de janelas dúplices.
Uma, aberta pela brisa nocturna;
outra, pelo mar sereno em prata clareado

Encontrara-se e via
a fluência da inusitada e nobre palavra
nos trâmites da cidade camuflada
pela diligente armadura
em sol e sombra projectada
nos brilhos da folhagem feita água

Remexia, e abrandavam os luares sobre a margem
quando, pela hora do silêncio,
dançavam sorridentes pássaros

À luz do crepúsculo
volatilizava-se em correntes freáticas
no encaixe perfeito do nicho encontrado


Poema in "Transparência de Ser"

sábado, agosto 11, 2007

30 de Julho...


Pintura de Danielle Richard

Para ti, Amiga, neste dia especial, com os votos
sinceros de um caminho pleno de Luz e Alegria:


Um jardim, uma rosa, um lago.
És um oásis na cidade fremente
Que passa do outro lado
Entre muros, asfaltos, mas presente.

Jardim de aves levíssimas
Musicado de verde.
És um relógio, suspenso.

Rosa irisada pelo sol doirado
Solitária na cadência do dia.
És a palavra nua, infinda.

Lago azul de dançantes seres
Vogando em pontes, laços, abrigos.
És água de serenos sorrisos.

Que somente
Sob a fragilidade do tempo
Tudo vês e tudo sentes.

És a sensibilidade isolada
Por entre a cidade correndo.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Dois Mundos
















Zelamos, com o crescer dos anos,
esse mundo dos segredos,
e da osmose não sabemos
se adormecemos o sono
se o sonho acordamos.

À luz do crepúsculo,
em matizes de fogo e chama,
emergem dedos em melodia aquática -
estranhas danças, leves solfejos,
pinturas silentes, abstractas -
num aroma adocicado sobre a casa.

Observo, admiro e comparo
da chuva, a pluralidade
das formas caindo no campo -
sem hipótese nem escolha -
sentindo da terra a proximidade

Sob a acalmia profunda que se abre,
da tela desvanece-se o chilreio das aves,
a estridulação dos insectos,
do vento o sopro nas gruas da árvore
e, perfeitos, os dois mundos cantam
o centro da água.

Deles não se prevêem espaços.


(pintura de J R Costa)
(em pesquisa Google)


Poema in "Transparência de Ser"

quarta-feira, julho 25, 2007

Eterno abraço

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket


Enlaço-te
numa rama profunda e delicada
nas letras em densas águas
voluntariosas que não acalmam

Acompanho cada passo de luz e sombra
quando espelhas cansaço
da luta que te permeia
e, silente, espaças

E vivo
a Dita, a Desdita, com que enfeitas
outros traços
paralelos, singelos, que interessa?!,
se deles me fazes parte

E se me calo
e de silêncio adormeço
estremeço
sempre que um adoro me voa
e me lembra cantigas de outrora
no baloiçar de um eterno abraço


(pintura de Pierre Auguste Cot)


Poema in "transparência de Ser"

quinta-feira, julho 19, 2007

A Parnaso


























Estranha és, ó Visitante,
mãe das horas profundas silenciadas!

Em folha sépia desfolhas palavras nuas,
no corpo de cada pedra escura
ondas brilhantes abres,
mais doces que um sítio isolado.

Libertas o medo das frias manhãs cansadas,
em letras voas pelo lanço da escada
íngreme, movendo um círculo espiralado
tecido num tubo de água.

E me ditas com ternura
da terra as sombras
em rama fina e delicada,
do pó do deserto o ouro, a prata,
nos entre-veios das pétalas rubras
em danças leves pela sala.

Estranha és, ó Visitante,
na candura com que enleias e traças
as asas que a brisa suave canta.


(pintura de DelMar ) aqui

sexta-feira, julho 13, 2007

Desafios

Em tempo devido, já pelo mesmo ultrapassado, tive a honra de ser
nomeada pela Maria* e pelo Peter** para dar seguimento à
corrente “Meme” que, por idêntico motivo, me abstenho de
explicar e a quem muito agradeço.

Transcrevo, de seguida, uma das inúmeras passagens constantes
do livro “Crónica do Pássaro de Corda” de Haruki Murakami que
muito gostei de ler e que deram origem a um ou outro poema por
me terem feito pensar.

“Sem dar por isso, comecei a falar sozinho. Num sussurro, saíam-
me da boca fragmentos de reflexões de que nem eu próprio tinha
consciência. Era superior ás minhas forças. Desligada da minha
mente, a minha boca movia-se sozinha, de maneira automática,
independentemente da minha vontade, lançando nas trevas
palavras que aos meus olhos não faziam sentido. As palavras
provinham de uma zona de sombra para logo a seguir serem
absorvidas por outra. O meu corpo parecia ter-se transformado
num túnel vazio, uma conduta a ligar dois pontos por onde
transitavam as sílabas. Tratava-se de fragmentos de reflexões,
sem sombra de dúvida, mas era como se aqueles pensamentos
fossem gerados fora da minha consciência.”


Pelo exposto no primeiro parágrafo, também me sinto muito
honrada e grata ao Manoel Carlos*** pelo desafio sobre
“O que ando a ler” e que convosco partilho:

“Inquérito às Quatro Confidências” de Maria Gabriela Llansol -
escritora portuguesa, duas vezes galardoada com o Grande
Prémio APE e com várias obras de mérito publicadas.

“Confissões de uma Liberal” de Maria Filomena Mónica – um
livro de crónicas focando vários temas da actualidade, revelando
a sabedoria de um olhar inconformista, liberal e céptico, sobre a
realidade portuguesa e estrangeira.

“Combateremos a Sombra” de Lídia Jorge – escritora
portuguesa muito conceituada e considerada como uma das vozes
mais originais e poderosas da ficção do nosso País. A acção
desenrola-se sobre a condição de zelador do mundo secreto,
de um psicanalista.

Apesar de não dar seguimento aos desafios, pois a todos nomeio,
aproveito esta oportunidade para agradecer aos meus amigos
Clave de Lua II, Letras Pinceladas e Nimbypolis (constantes
dos links) a amabilidade que também tiveram em nomear-me
para o Thinking Blogger Award e aos quais não tive
oportunidade, em tempo, de agradecer.

Grata por tudo, com muita amizade, a todos desejo muita luz e paz
nos vossos caminhos.



* http://wwwthornlessrose.blogspot.com/

** http://conversasdexaxa4.blogspot.com/

*** http://www.agrestino.blogger.com.br/

domingo, junho 17, 2007

Flamas de Junho


















Espalhar do amor o tempo incerto
dos lírios e açucenas nas urzes nascidas no deserto
alinhadas em folhas de linho
e da água omitidas que urge e se bebe

Leve será o sonho, ilusão tardia
percorrendo o tabuado convés do navio
que se lava de tarde e atrasa
a brasa nele contida
entre as folhas orvalhadas da vida

Espalhar o amor na plenitude da aurora
quando o enlace do silêncio não tarda a demora
daquele voar quieto, de celsitude aberta
no transporte do que subsiste
aqui, ali, tão breve e perto

Menina de amor silente e de vela
adormece flamas de vento
em doce espera

(pintura de Lord Frederick Leighton)


Poema in "Transparência de Ser"

segunda-feira, junho 11, 2007

Breve nota

Olá a todos

Apresento as minhas desculpas pela ausência forçada.

Estou sem computador e ainda não sei se terei de
adquirir um novo.

Este tem um sistema operativo completamente
diferente e, além disso, só esporadicamente me é
permitido o acesso.

Espero que compreendam esta situação imprevista
e a todos desejo dias plenos de sol e, acima de tudo,
que sejam felizes.

Com muito carinho e amizade, um grande abraço da
Amita

sexta-feira, maio 11, 2007

No fio do poema


















Pela boca do céu corre um poema velho
em amor, sol e espuma do rio é leito;
se nas cerradas janelas em escolhos flutua
moroso nos passos, a palavra desnuda

Pelos caminhos bifurcados o rio se alarga
nas ondulantes areias de um só traço
qual folha muda em lenta desfolhada
no leve poisio de um ponto no espaço

Será talvez um poema no fio das horas
sobre a antiguidade - tecidos de um canto –
onde breves letras expandidas em branco

sob círculos ovalados se desdobram
e no repouso dos joelhos aninhadas
em silêncio pairam, as mãos cantadas


(pintura de Nasrin Afrouz)

domingo, maio 06, 2007

Fitas e Laços


















Levanta-te, poeta, e ergue a tua taça!

Brindemos ao tempo das fitas
universitárias,
ao empedrado desfile pela praça,
ao passeio por ruas estreitas
escalonadas,
ao arrasto das latas e pinturas abstractas,
às intrigantes vozes em monocórdicas musicalidades,
nos ritos e rituais pela estrada dos laços.

Brindemos! E então talvez
se depositem ocasionais máscaras,
as penas das aves fecundem das caixas a opacidade,
os rios subam escadas desérticas
na diletante engenharia matemática,
e um fonema a expensas isolado
se liberte num voo cantado.

Sejamos coesos e unos
no misterioso conceito dos traços
para que sob os alpendres minúsculos
cresça a Paz das árvores
e de todas as casas suspensas
jorrem flores pelo espaço.

Se fitas não tenho, poeta,
teço linhas em amenos laços.


(imagem do Google)

segunda-feira, abril 30, 2007

A Consulta

























Longo e lento ritual programado em anos
sob a morosidade do pêndulo sustendo cabeças
salpicando ilusões e desenganos.

Passeava pelos corredores apinhados de gente
em romaria parada
e vagueava no sentido das idades indefinidas
sustentadas pela parede qual suporte ansiado
pelos traços de cansaço e na espera entorpecidos.
Horas tecendo o frio…

Resistentes espelhos de dor e mágoa
na previsão dos planos sobrevoados.
Deles, em número, tornava-se parte
nas águas pelo frio adentradas
nas correntes do navio em cais parado
na embriaguez de voláteis asas
esbatidas entre o negro e o verde pálido.

De quando em vez, alguém passava apressado
sob as ideias fixas dos papeis remexidos
com sombria cara.

Então regressava ao ameno poisio do livro
aberto sobre o plástico e escrevia…
Até que uma voz estridente estremecia
o silêncio rumorejado
despertando os cordeiros no espaço fechado.


(pintura de Rogério Ribeiro)

segunda-feira, abril 23, 2007

Paisagem














Encadeiam-se semanas…
Se a contento tudo passa
passará também o vento
na acalmia da brisa silente

Da força que me anima
construo pespontos de asas
e assim vou caminhando
em lentos e serenos passos
sobre casas, navios, escadas
frondosas árvores
que ocasionalmente avisto
sob a brisa marítima orvalhada
jorrando cascatas
na obliquidade escusa dos traços
no paralelismo confuso da matemática
ou no ponto minúsculo do poema
que no nada-tudo observa e cala

Que mais dizer se de um talvez se edificam
muros em escala?
Será porventura um sustento no espaço?

Do tudo apenas sei nada…
Qual ponto mínimo
observo, medito e tento
alcançar sábias palavras
sob a escassez do fio do tempo

Se ainda existo
a serenidade com carinho embalo
num límpido e terno sorriso claro
sobre a paisagem


(pintura de Júlia Calçada)

quinta-feira, abril 19, 2007

O Centro



















Em sereno repouso

medito

o Centro perfeito do lago...


(imagem de Freydoon Rassouli)

quarta-feira, abril 18, 2007

Prémio...

Surpreendida e honrada agradeço à Poesia Portuguesa as palavras e a nomeação deste blogue com o prémio:

Tarefa difícil é-me imposta agora, ao ter de escolher 5 blogues da minha preferência. Todos o são, mesmo aqueles que, por escassez de tempo, ainda não incluí nos links.
Assim sendo distingo, pela enorme qualidade que poderão verificar, os seguintes:
Manoel Carlos

Nilson Barcelli

Meia Lua

Peter & Cª

António Melenas


Na esperança de que a corrente tenha continuidade, aqui deixo o carinho de um imenso abraço.


Imagem fotoplatforma

sexta-feira, abril 13, 2007

Les Trois Arts














Assim nos quedamos
no breve relaxamento dos anos
nas horas passadas em pontas
que teus dedos em branco e negro
o meu cetim afagaram

Cúmplices segredos
na postura do silêncio
dos rituais em leves traços
e dos sussurros, os embalos



(resposta ao desafio da Maria a quem agradeço)

Tela de Júlia Calçada


sexta-feira, abril 06, 2007

Venho ...














Venho de um tempo de graciosas asas
pelo silêncio adormecidas quando acamadas

de paredes nuas que ao longe me penduram
rostos inanimados sobre o telhado das árvores

do cume da montanha unido ao umbigo do vale
com pespontos de água sobre a estrada

do seio das mulheres translúcidas
da terra nascidas e da lua sussurradas

do mar, a solidão amanheço a escada
nas miscigenadas vagas de azul e verde

Venho, permaneço e caminho
no amor em branco-prata
a serenidade doce da cantata.


(pintura de Noronha da Costa)

(perante a temporal impossibilidade de visitas a todos desejo uma Feliz Páscoa)

domingo, abril 01, 2007

A indelével certeza

























A indelével certeza dos anos encostados à parede
Se em mim cobriu enganos não teceu erros
E dos muros levantados amarelecidos no tempo
Resta a árvore que sustenta os longos fios
De um cabelo em marfim penteado
Que pelos afagos dos dedos
A raiz alimenta

Floresce a dança perene da memória
Em vagas macias, leves
Em laços de rede fina
Ondulando dos anos a hora
De mulher menina que canta
A indelével e alva certeza da brisa
Que anos tece nos cabelos

E te bebo minha hora perdida no tempo
Na leveza deste sentir em contemplação ausente
Quando me sento sob o silêncio das folhas
Em doce acalento


(pintura de Corinna Button)

segunda-feira, março 19, 2007

Entre dois tempos
















I

Hoje...
Especialmente hoje...
que avistei peixes negros de bocas cosidas por dentro
pés de cabelo, sem sustento
lançando fogos de artifício
de brilhos desprovidos
e trajando enganos

Hoje...
Especialmente hoje...
o suave perfume da mensagem
reforçou os frágeis troncos da jangada
que no Amor ruma alada
pela consistência da viagem.

(escrito em 16 do corrente)


II

Transmutaram-se os peixes em pássaros
Soltando faíscas obscuras das inexistentes asas
E marchavam lentos enganos
Quais soldados de chumbo caramelizados
Derretendo viscosidades sobre o telhado
Que do jogo faziam parte.

Por vezes voam distraídas as projecções dos dedos
Na imprevisível chegada de pássaros negros.

Circunscrito o ontem no percurso
Bordo árvores de papel imaculado
Em orientais pastos recortados
Onde despontam as flores que uso
E o doce sorriso de um abraço
No branco-azul sereno de um canto.


(imagem de Young-jin Han)

domingo, março 11, 2007

Tempos de Matéria
























Fina e ténue linha separa o riso do choro.
Em ponto pequeno é um sinal de fogo e
de revoltas águas no areal inconsistente das casas.

O frenesim da matéria descansou leve
no inabalável passo dos anos.

Tantos anos…
respirados sob lentes fumadas
e de opacidade surda ante
uns quantos estremecidos brados
de um presente passado
pela floresta dizimada
pela alva montanha liquefeita
pelo mar rasgado em actos metálicos
e na dor sem sombra das crianças
que a fome e a guerra enlaçam
nas horas loucas perdidas no Tempo

Fina e ténue linha separa o riso do choro
quando sob o areal inconsistente das casas
o Homem demente não age, ainda pensa …


(imagem de Lucemar de Souza)

terça-feira, março 06, 2007

Véus de redes
















E caminhamos
Sobre reluzentes espaços
Onde nas nuvens espaçamos os sentidos
De deliberada e urgente ausência

E tornamo-nos aves de vento sobre
O sentimento de palavras
Outrora de planos leves quando
Em inocuidade
Seguimos os fáceis traços não vistos
E na incongruência tecidos
Lenta-mente sobre sorrisos doces
Como aquela criança inocente
Brincando na infinitude da mente

Do tudo algo se sabe, se sente
Por vezes numa única palavra
De um passo na brisa suave
Que em sussurros nos canta
Barcos, árvores e fogo
Sob o degelo do entendimento

Para onde caminham as águas?

Assim meu coração clama
Em brados de mar e vento
Para que serene eternamente
E do amor se teçam véus de redes
Na plenitude refulgentes


(imagem de Rarindra Prakarsa)

domingo, fevereiro 18, 2007

Até sempre!

Este sítio permanecerá em descanso por tempo indeterminado.

Sensibilizada, Amita agradece o imenso e inesquecível carinho
que lhe dedicaram nestes quase 3 anos de existência.

Com a ternura de um abraço, a todos deseja um caminho
pleno de brilhos.

Bem Hajam!

quinta-feira, janeiro 18, 2007

À deriva














Emblemáticas, monocórdicas, arredias,
pelos dias pairam letras e palavras
numa invasão programada
e de constância interrompida
trespassando as paredes da casa

E alego convincente
- Amanhã vou! - Ia…
se o ontem no presente
pelo nada se abria

E soldava-as lentas e leves
num espartilho de sal e pedra
na certeza desejada e incumprida
daquele sorver de passos
vozes, beijos, rever laços,
em lonjura adormecida

Sob a equidistante neblina,
adensada e caminhante,
embalei as velas do nosso barco
numa serena deriva
onde verdes peixes cantavam
nos murmurados solfejos
de um mar de amor, paz e vida

Emblemáticas, monocórdicas, arredias,
dançam letras e palavras
na lesta terminologia
de fortes correntes de água


(Fotografia de Zacarias Pereira da Mata -
Blog: http://zacariasdamata.blog.com/ )

Poema in "Transparência de Ser"



domingo, janeiro 07, 2007

sublimando...






















Sob os aglomerados,
caminham as cidades
em bandos apressados

Não se falam, não se tocam e, se param,
pelo vazio o olhar se esquece,
espartilhado, estreito e ténue.

São como teias de vento e divagam
no cursor breve da matéria
esboçada em cinzel de água e pedra

Além, do alto, em qualquer parte,
medita-se, e de nós se faz a espera
tecendo candeias em peito aberto -
modeladas, sublimadas -
e com suavidade se espalham
em alvas árvores… de neve


(pintura de Shinichi Osawa)

Poema in "Transparência de Ser"