sexta-feira, outubro 27, 2006

Em suspensão























Nos fios de um sol fulgente
Guardados em folhas de prata
Há um mar infindo, sereno
Sustido sob uma árvore
E no azul-cobalto estendem
Invisíveis lembranças de asas

No palco, o teatro negro desenrolava em cada mente
Sentidos diversos, como um conto inacabado.

Sob o artifício do sonho provocado
Deslizavam imagens em sucedâneo:
A transparência dos espelhos
Da luz da vela, os passos
A magia na pintura do palhaço
Aquela sombra humanizada
A cadência dos gestos repetidos
Que a vida em fluxos espaça

E a menina suspensa, qual Alice,
Rodopiava pelo espanto
Pelas lágrimas da saudade
Pela interrogação da dança
Pelo sopro dos afagos
Entre sorrisos doces e claros

Na rama de uma árvore de prata
Sobre um mar azul-cobalto
Guardo memórias, encantos…


(imagem de Zhang Hongtu)

sábado, outubro 21, 2006

e renascem borboletas...















Da vida não teço conceitos
E deixo correr a meu jeito
Acasos da dita

As palavras por direito
Deslizam em ruas antigas
Que calcorreio em cantigas
Livres solidárias sem preito

No silêncio em folhas gravado
Componho do sorriso os afagos

Pelo meu caminho espaçado
Atento em todo o lado
Das palavras o alerta
Na alma sempre desperta
Do grito do sonho omitido
Do medo da descoberta

Com carinho os enlaço
Tentando suster abrigo
No véu outonal que crio
Por onde leve passeio
Quando em branco me deito
No brilho da brisa serena.

E renascem do passado
Coloridas borboletas.


(pintura de Cruzeiro Seixas)

terça-feira, outubro 10, 2006

Em Demanda




























Jamais poderia renascer a escrita
afundada e fundeada no denso silêncio de dias

Então quebrou a guerra-fria interiorizada
o ténue fio do pensamento que letras unia
e partiu sem nada, de mãos vazias

Era a fuga, a nudez necessitada,
da tempestade pressentida
de todos os dramas em cascata
dos desencontros em luares de prata
das vidas descalças no paralelismo
dos carris baços sem destino
e dos contos de fadas…

No seu olhar espaçado corriam imagens
rápidas, fulgurantes, sem nexo ou ritmo
do rodar balanceado permitido pela estrada

Por vezes dormitava sobre o vazio
dos pés em marcha apressada
como um rasto seco de lágrima
no sulco longínquo da rocha pelo mar cantada
e na terra do nunca assistida

Encontrou-se em cada estátua,
em cada torre, ponte, muralha,
nos salões de castelos antigos,
no débil brilho da noite em esplanada
onde o sorriso serenamente dançava


(pintura de Cot)


Poema in "Transparência de Ser"