domingo, abril 30, 2006

A Casa da Árvore
















Suspensa numa árvore respira uma casa
pequenina insignificante indistinta tosca.
Aos olhos calados é uma casa lisa.

Da ranhura do telhado uma pena é vergada.
O peso da sombra das horas seus filamentos
espalha sobre o mato verde em escada.

Em surdina esboça uma cantiga de Maio
tímida.

Sobre as gotas de orvalho que a noite pende
deslizam pétalas de algodão doce em notas azuis
soltas pelo calor da manhã.

É uma casa singela navegando no silêncio
dos longos segredos enlaçados pelo mar.


O sonho encheu o dia de aromas
e iluminou de sorrisos ternos
um sereno despertar.

terça-feira, abril 25, 2006

Reflexo















Me vivo

Te vivo

Dos brilhos

No espaço

Silenciado

Serena

Brisa

De mim

sábado, abril 22, 2006

Diz...


















Diz-me
Sem que a voz te trema
O que cantam os poemas
Feitos de amor e saudade

Diz-me
Qual a verdade que espelhas
No voar de cada letra
Desfeita em liberdade

Longo é o caminho das pedras redondas
Depositadas no leito do rio
Que a corrente contempla e enfeita
De folhas, penas e limos
Elementos dos sentidos
Em cada dobra da margem
Que avisto

Diz-me
Do planar no silêncio sereno
Que sinto

Diz… apenas.

quinta-feira, abril 13, 2006

Em Tempo de Páscoa

Serena percorro espaços
Nesse tempo que não tenho
E em cada deslizar de letras
Vejo dúvidas ensaios frementes
Tecidos d’um vento em retalhos
Em ténues amantes brisas
Escondido

Todas as interrogações s’espelham
Nas palavras silentes que sigo
São procuras inclementes
De horas que não faz Tempo
Nem abrigo

De materialidade revejo sentidos
Passando entre pontos e traços
Incompreensões do momento
Que docemente enlaço
Em Paz, Luz e sorrisos.


P.S.: Com os votos de uma Alegre Páscoa
vos entrego com carinho
um voo de letras singelas
num poema antigo
feito de Amor e de Laços.

domingo, abril 09, 2006

Esse sentir... em menina

















Chegaste
Com o teu passo lento
Como se de água se tratasse
Aos meus lábios peregrinos
Ávidos de amor e de paz

Mostraste
Que a noite também tem brilho
E pelas espadas de fogo
Da voz se abrem caminhos

Indicaste
O amargo doce dos sonhos
Da transmutação dos ciclos
Que a Terra consigo traz

E quando
No seio das águas deslizo
No círculo da chama me fixo
Do deserto provo o sal
Entendo o canto
Suspenso
No pêndulo do tempo
No suave olhar da brisa
E esse sentir em menina
Que perdura sereno
Nos laços de um sorriso


(pintura de Claude Renoir)

quinta-feira, abril 06, 2006

As águas sob as pontes...


















Correm águas sob as pontes
Águas claras… escuras…
Ou se isolam
Ou se mesclam
Águas puras… impuras…

Seguem idênticos trajectos
Ondeantes… lineares…
Em sussurros de silêncio
Bradam esferas de vento
Sob as pontes
Pontes suspensas nos ares

Águas e pontes que vibram
Abalos fortes, serenos
Águas seguindo cantares
Pontes correndo...correndo
Pelos montes serras vales
Na margem de brilhos intensos

Sob as pontes as águas correm
Deslizando docemente
Transformam pérolas d’orvalhos
E correndo se enlaçam

No éter as pontes abraçam
Solidões das marés
Dos tempos
Suave
Serenamente…

Círculos














Iguais a tantos passeiam os dias
Em círculos abertos fechados
Trazem nas mãos candelabros
Solitários
Se quedam no sopé da pirâmide
Escalonada
No topo brilha uma nuvem doirada
Partículas de fogo
Que no azul espalha
Iguais a tantos passeiam os dias
Em círculos
Abertos...
Fechados...


(fotografia de Joseph Gerges)

segunda-feira, abril 03, 2006

A Sala


















Eram férteis os olhares murmurados
Beijos que a circunstância exigia
Se estava… não estava. Só sentia
Vindos de todos os lados
Naquele espaço fechado
Que a cobertura branca suspendia

Isolei-me no silêncio do fumo de um cigarro

Subitamente
O branco desceu pleno de brilhos
Intensos profundos
Na cumplicidade de um abraço apertado
Envolvendo móveis e gentes
Em formações cristalinas

Feliz e cansada adormeci leve
Nos ternos braços
De um doce sorriso


(pintura de Fazian)