sexta-feira, dezembro 29, 2006

Rosas brancas














Encomendei as flores mais belas
Rosas brancas
Tão singelas
Para um cântico de Luz
Espalhado no caminho
Leve, doce, infindo
Que à Paz de todos conduz.

E em enlaces de melodia
Suave, profunda e linda
O Tudo cantava, sorria
Trazendo nos braços a água
A montanha, a pradaria
As pedras, os seixos, as aves
E a alma do poeta breve
O infinito em fé se abre
E sob o brilho intenso…
Sereno...
Caminha.




Parabéns Maria Azenha


A todos os amigos desejo um Feliz 2007
com muita Paz e Luz nos seus caminhos.

sábado, dezembro 16, 2006

em tela suspensa


























Perante uma outra de mim oscila a hora
posta e exposta na rectangular forma
de um espaço fechado

O que sente não se sabe.
E passam… e repassa
no olhar, a curiosidade
sobre a mancha escarlate
imobilizada, enquadrada
na suspensão de alvas extremidades

Talvez os braços estenda sobre as águas
e, sem limite nem fronteiras, as afague
nos dedos, nascente de mar;
ou descanse o filtro coado do pensamento
ante muros levantados de cal
envolta no azul da mente

Talvez sorria sussurros ou pense
na solidariedade do momento
no gracioso cântico das almas
no suave leito de lama quente
eterno retorno de gente
ao doce embalo da criança

Posta e exposta
oscila a hora,
o instante breve
no canto perene do Tempo


(pintura de José Luís Abassolo)

Poema in "Transparência de Ser"



A todos desejo alegres Festividades plenas de Amor e Paz.

sábado, dezembro 09, 2006

como é urgente...
























Urge do amor o canto pleno
o orvalho em manhã clara
a luz que a hora espalha
em mil cores e solfejos
pelos três cantos da casa

Urge tecer asas e lírios
num arco-íris de beijos
e nas pedras da calçada
pela chuva desbotadas
pintar meigos sorrisos

Urge do frio o aquecimento
dos pés descalços em brasa.
Urge o mar, a serra, o rio,
a fluência da verdade
no olhar que a brisa enlaça

Aclarar o dito, o não dito,
nos gestos da sociedade
e, do Amor maior, o brilho
terno, sereno em Amizade
como urgente é o momento
de Paz, no alento
do ouro manto das searas


Poema in "Transparência de Ser"

quarta-feira, novembro 29, 2006

Em sépia tela...


























Espalham-se como planos
Em lisos, programados dias
Sob indigentes funções de cansaços

Planam… e da Graça traçam
Dizeres que a escrita contempla
Em suaves voos pelo espaço

E fala-se de Amor intenso
Camuflado
Inchado no corpo imenso
Do poema que se expande
Na numerologia aberta
Indiscreta
Em desafios de um tempo
Inacabado

Do Amor se fende a Verdade
Inaceitável, crua
Quando no dorso do poema
Crescem árvores nuas
Em lava e neve cumeadas
E se verga
A menina que o trigo apanha
Indiferente ao rolo elaborado
Sobre o seu mundo de nada

E o sorriso desperta
Leve, tímido, pelo alerta
Da serena amizade
Olvidado num canto
Surdo, mudo
Em sépia tela


(pintura de Graça Morais)

In "Transparência de Ser"

quinta-feira, novembro 23, 2006

A travessia num sonho

























Talvez mais não sejam que ufanas velas
cruzando oceânicos navios
o esplendor de montanhas submersas
no ondular de algas e limos

Talvez voem, talvez cantem ou caminhem
junto aos peixes com dedos de linho
delineando desérticas areias e peregrinem
no olhar vago e silente do vazio

Talvez mais não sejam que um talvez
na morfologia de um tempo perdido
criados nos flocos de neve de uma vez
sem rumo, sem sorte, nem abrigo

Talvez existam… se breve os sinto


(pintura de Tanja Hoffmann)

Poema in "Transparência de Ser"

sábado, novembro 18, 2006

Cruzando a hora...

















Cruzando a febril hora
num pêndulo estagnado
liberto a nota breve
no repouso da memória
em “Mil Beijos”
com carinho enviados
na plenitude do aroma
onde voa a essência
dos sorrisos serenos
em ternos laços.

Até breve!
E desfrutem em beleza
as doces formas de Amar!

sexta-feira, novembro 10, 2006

Silhueta

























Pianíssima, amorteço
sob a planura da ausência
onde tantas vezes me sinto
e com ternura contemplo
os sons na pedra talhados
qual flor de sal em fios de linho

Escuto e de mim desapareço
no suave canto do rio
sob a ponte do Moldava
onde te senti pleno
ao meu lado
sorvendo do silêncio, a Beleza

Assim circundo da pedra os veios
diluídos nos serenos brilhos
pelo cinzel que estátuas talha
e que, de tão longe, sentidos permeio;
os coretos que música espalha;
o rumorejar de árvores entrelaçadas
suspendendo o casario
em outonais cores repousado

E danço… do voo, a silhueta,
na abstraída inocência
dos dedos, em fios de linho


(pintura de Manuela Justino)

Poema in "Transparência de Ser"

sábado, novembro 04, 2006

Deduções















Deduzem-se inconsistências em factos
sob a inexistência de pontos claros
e pela planície da noite se espalham
infusões de asas e... estrelas

Deduz-se…
e o tudo de nada vagueia por elas

Fora eu aquele papel branco desdobrado
outrora emitindo caravelas
por mares, em ondulantes verdes árvores,
e não uma terra de salas
compartimentadas
praticando ensinamentos
tão leves...

Sorriria, sim, sorriria…
da imperante crueza dos actos
desfraldados em decretos
que à velocidade da luz são jorrados
para um ontem… já presente

E de pés descalços correria
pela copa de cada árvore esmaecida
levando pão, o sustento da Dita,
e a mão afagaria, contente,
dos brilhos, o ressurgimento

Deduz-se…
na sombra
um vento bordado de estrelas


(pintura de Gracinda Candeias)

Poema in "Transparência de Ser"

sexta-feira, outubro 27, 2006

Em suspensão























Nos fios de um sol fulgente
Guardados em folhas de prata
Há um mar infindo, sereno
Sustido sob uma árvore
E no azul-cobalto estendem
Invisíveis lembranças de asas

No palco, o teatro negro desenrolava em cada mente
Sentidos diversos, como um conto inacabado.

Sob o artifício do sonho provocado
Deslizavam imagens em sucedâneo:
A transparência dos espelhos
Da luz da vela, os passos
A magia na pintura do palhaço
Aquela sombra humanizada
A cadência dos gestos repetidos
Que a vida em fluxos espaça

E a menina suspensa, qual Alice,
Rodopiava pelo espanto
Pelas lágrimas da saudade
Pela interrogação da dança
Pelo sopro dos afagos
Entre sorrisos doces e claros

Na rama de uma árvore de prata
Sobre um mar azul-cobalto
Guardo memórias, encantos…


(imagem de Zhang Hongtu)

sábado, outubro 21, 2006

e renascem borboletas...















Da vida não teço conceitos
E deixo correr a meu jeito
Acasos da dita

As palavras por direito
Deslizam em ruas antigas
Que calcorreio em cantigas
Livres solidárias sem preito

No silêncio em folhas gravado
Componho do sorriso os afagos

Pelo meu caminho espaçado
Atento em todo o lado
Das palavras o alerta
Na alma sempre desperta
Do grito do sonho omitido
Do medo da descoberta

Com carinho os enlaço
Tentando suster abrigo
No véu outonal que crio
Por onde leve passeio
Quando em branco me deito
No brilho da brisa serena.

E renascem do passado
Coloridas borboletas.


(pintura de Cruzeiro Seixas)

terça-feira, outubro 10, 2006

Em Demanda




























Jamais poderia renascer a escrita
afundada e fundeada no denso silêncio de dias

Então quebrou a guerra-fria interiorizada
o ténue fio do pensamento que letras unia
e partiu sem nada, de mãos vazias

Era a fuga, a nudez necessitada,
da tempestade pressentida
de todos os dramas em cascata
dos desencontros em luares de prata
das vidas descalças no paralelismo
dos carris baços sem destino
e dos contos de fadas…

No seu olhar espaçado corriam imagens
rápidas, fulgurantes, sem nexo ou ritmo
do rodar balanceado permitido pela estrada

Por vezes dormitava sobre o vazio
dos pés em marcha apressada
como um rasto seco de lágrima
no sulco longínquo da rocha pelo mar cantada
e na terra do nunca assistida

Encontrou-se em cada estátua,
em cada torre, ponte, muralha,
nos salões de castelos antigos,
no débil brilho da noite em esplanada
onde o sorriso serenamente dançava


(pintura de Cot)


Poema in "Transparência de Ser"

sábado, setembro 16, 2006

No repouso das mãos...



(pintura de J.M.Teles da Silva)*









Tal como de ti as vozes numa imensidão de azul se espalham
Tal como de ti reluzem as pradarias pela aurora orvalhada
Tal como de ti as estrelas cantam sobre um mar silenciado
E o vento os seres do deserto movimenta com seu passo apressado

Assim me mantenho e sustento
As águas trazidas pelo vento
A dor que se me aperta no peito
Pelas crianças estropiadas
Num abandono displicente
E planeado

Tal como de ti pressinto a escuridão dos dias planos
Tal como de ti modero o arrasto de incautos passos
Tal como de ti se me cortam do degelo as palavras
E avisto as folhas solitárias jorradas em brancas placas

Assim em incongruências nos vemos
Nos traços que a planura no espaço adensa
Na matemática geométrica dos braços
Como em súplica dos brilhos imensos
Que a terna Natureza qual criança
Serenamente, brincando, a si clama

E no repouso das mãos entrelaçadas
Desfiam-se contas de prata salgada….


* ( Agradeço ao pintor a autorização de publicar a imagem
cujo blog "sbrdvnt" se encontra nos meus links)

segunda-feira, setembro 11, 2006

Registos














Ouço-te num qualquer outro registo de dança
onde pensares e sentires são devolvidos em contracapa
nua, de cor única e vazia de espelhos

Olho-te e não te vejo.

Só os esboços estudados da dança
permanecem em meus ouvidos como inconstância
de desafios musicados
de suspiros
de muros levantados
e de búzios fendidos
por onde se escapa o que nem a brisa alcança

Olho-te por entre o arvoredo de um mar salgado
agitando formas de cotovelos apoiados nas águas
numa outra de mim que o registo fez parte
quando fendiam as paredes da casa
agora brancas, imaculadas,
pelo silêncio sorridente e ameno das asas
que descubro serenamente e destapo
nas cores luzentes das sonoridades
que enfeitam e alegram o espaço
no repouso cantante, suave,
do regaço que eleva e embala


(imagem de Pino Daeni)


Poema in "Transparência de Ser"

sábado, setembro 02, 2006

Sob o cuidado dos dias



















Reparte-se sob o cuidado dos dias
por onde flutua e caminha
em seus passos de dança

Reparte-se e não faz parte.
Divaga...
ao som da melodia clara
estremecida
nos seus braços de criança

E joga vida fora
com a leveza dos anos
Do Tempo não traz o momento,
nem enganos

E deixa que repartam seus cabelos
entre tranças, pendentes cachos,
ou em rabo-de-cavalo
com aquela fita luzente
que alvo bibe afaga
pelos folhos dos solfejos
ressoando pela sala

Parte-se e reparte-se
o cuidado breve das lembranças
que no centro de si vagueiam
doces, fluidas e cândidas,
e pelos sorrisos espelham
o que o Mundo não alcança

Oh! Que bom é ser criança...


(pintura de Claude Renoir)

Poema in "Transparência de Ser"



terça-feira, agosto 22, 2006

Nómadas














Perante nós desliza o nomadismo dos dias
seguindo a caravana no deserto.

Bem ao longe, uma miragem assemelha-se perto
na sede de novas alegres.

As horas sobrepõem-se em pilhas de dunas
consoante bate o sol no templo das vidas
já não nossas mas da comunidade
que transporta, nas mãos do vento,
areias da moda.

Saúdam-se em palavras contabilizadas
pelo pião dos números equilibrados
no gume das lâminas.

É tudo tão efémero…
Tudo tão curto e vago…
quando o hoje voou despercebido
e o amanhã se prepara
em ritos de agora passados.

Assim nómadas nos tornamos
aquecendo o frio intenso
na exactidão acesa do vazio.

E continuamos
sublimando as palavras não ditas
enroscadas nas mantas macias
que abriremos
numa qualquer tarde de um qualquer dia
quando atingirmos, desmedidos,
o oásis perfumado dos sorrisos.


Poema in "Transparência de Ser"

terça-feira, agosto 08, 2006

Neste mar...















Me revejo
Entre miríades de letras luzentes
Que não tento decifrar
De tão pequena, tão mínima

Meu ensejo
Traduz da vida o sustento
Na profundeza do mar
Onde erecta moro
Como estátua de sal

Se rastos não deixo
Não lamento.
Pelas ondas do silêncio
O meu grito é de Paz

A serenidade me anima
Com ternura me ensina
Quando, na imobilidade das horas,
Correntes de vento passam formosas
Querendo o tudo apagar
E na neblina se esvaem
Pelo ondear da paisagem

Algas e peixes abrigo
E na concha, um sorriso
Pintura de sol e luar
Reflectido neste mar


(imagem de autor desconhecido)

sexta-feira, agosto 04, 2006

Como dois rios...


Imagem de Susan Rios

Como dois rios*, atravessam o espaço
Na difusão da Beleza em palavras
Nada pretendem, nem querem
A solidariedade espalham
Em plena Dádiva

São rios de águas límpidas e claras

Por eles me curvo
Em silêncio os saúdo
E enlaço
Sobre meu leito sereno
De rosas luzentes e pálidas
Onde amanheço
Num mar de prata

(*)Estúdio Raposa e Poesia Portuguesa

sexta-feira, julho 28, 2006

Na Sequência do Sonho















Hoje amanheci entre a incoerência do sonho e a realidade.
O eco dos meus passos passeiam sozinhos pela semi-desperta casa
onde janelas e portas abertas expandem letras em palavras
desunificadas.
Tacteio o telhado intacto pelas raízes e ninhos de longos cabelos
dos pássaros.

Talvez voe
Talvez paire
Talvez caminhe no deserto das areias que embalam
Ou me quede pelo silêncio ou pelo nada
Se de ninguém o eco dos passos são parte

No interregno do sonho (in)acabado
bordo em azul, ervas, folhas e braços
nas árvores que me passam, em dolência, cantares
ritmados
rimados
na suave sonoridade da harpa
no timbre certo que dedos alcançam

Por vezes amanhecemos no eco dos passos…

Reajo
E sob as vozes de Mendelssohn no piano sofisticada e
de Rachmaninov no violoncelo o equilíbrio da sonata,
me banho no lago das águas límpidas e claras

Apaziguada
desfloro sorrisos em pétalas de rosas brancas
e na sequência do sonho
danço
o eco dos passos


(pintura de Renée Zempel Chan)

domingo, julho 23, 2006

Vagueares






















Para além do horizonte definido
repouso na luminosidade dos traços

Do nada, me torno parte de tudo,
um ponto mínimo,
passageiro olhar do meu canto,
na (in)visibilidade dos laços

Espalho sonoridades mudas,
alienígena das vozes em timbres marcados
por um diapasão de cordas, na batucada dos tempos
da infertilidade (in)consciente

De tantas recordo, na infinitude das horas,
sobre um espelho de águas mornas debruçadas,
no descompasso de rubras palavras

Aqui me torno, transformo e falo:
dos papeis a lápis gravados
incompletos
ante mãos que tudo colhem;
do útero da terra lavrada
onde trigo e joio medram na igualdade da palavra;
da cercadura densa na água límpida e clara;
dos murados sorrisos entre cidades;
e do suspiro…

Para além do horizonte definido
no azul vagueio serena
entre a luz dos pontos mínimos e traços


(imagem de autor desconhecido)

Poema in "Transparência de Ser"

sexta-feira, julho 14, 2006

E sobre a Água...






















Quando amanhece
fecho os olhos serenos
e no vazio procuro o som do silêncio
que ansioso me aguarda

Mergulho nas águas tépidas e cristalinas do voo
e a voz que me canta
acontece

Quão breve instante!
Não adianta!
Fogem as letras espavoridas
e se escondem tímidas
num espaço
que para já não alcanço
nem agarro

Desperto muda
silenciada e crua
pelas vozes rodeantes que me falam
da atenção exigida
da futilidade do dia
e do espanto

Então parto
para outra estória
outra vida
em breve-longa pausa

E sobre a água teço passos


(fotografia de Scott Mutter)

Poema in "Transparência de Ser"

terça-feira, julho 11, 2006

Da Gaiola Que Tudo Mudou....



















E tudo se aquietou de repente……..

Das flores com pés de vento nascem raízes
de palavras numa gaiola de barro cru,
aprisionadas.
No deserto (des)multiplicam-se as papoilas
rubras, fogosas do (in)certo derramando pequenas
gotas de chuva em verdes tonalidades.
Talvez agarre….
Talvez se prendam sob a aragem quente que
se faz como uma ventoinha girando em círculos
fixos… no concreto.
Da gaiola de sorrisos plastificados saem estátuas
em letras difusas, confusas, meias verdades… martelos
do pensamento para um séquito desatento.
Assim se (sobre)vive em pão minguado na prepotência
dos pássaros sábios.

E por entre os sussurros do silêncio
sob um braço metálico
tudo se aquietou...de repente…


(tela de Aloah)

quinta-feira, julho 06, 2006

Em Breve Espanto















Sempre que nesta pedra me sento
Na liquidez das águas mudas
Nasce um novo vento no espaço
De olhares abstractos
Instantes confusos
Na (in)visibilidade de letras claras
Que contemplo
Em breve espanto

Rodeante é a obliquidade dos fios
Que finas teias espalham
E pelos dedos pontiagudos
Esvoaçam insectos
À procura
Do sustento em folhas sépia
Como urze na areia do deserto

E aqui regresso
À acalmia das águas
Onde o azul é mais intenso
E pelos ciclos do caminho
Dançam os doces sorrisos
Nesta pedra onde me sento


(pintura de Modigliani)

quarta-feira, junho 28, 2006

No ilimite do sonho
















Acordo no ilimite do sonho
onde o tempo embebe as palavras
parcas, cansadas das margens

Acordo na insónia inusitada
por onde deslizam templos e fadas
e leves passos em doces cantares

De branco me visto
no sono da noite esparsa
que avisto em formas de concha e algas

De mim um terno sorriso embalo
na intemporalidade dos laços
que em contas o cristal desfiam
pelos sulcos breves da estrada

E no ilimite do sonho
sereno palavras



Poema in "Transparência de Ser"

sexta-feira, junho 23, 2006

Para além do limite do mar







imagem de Steph



Para além do limite do mar
Existe um canto nobre sereno
De vozes quando juntas se espalham
Em emanações abrangentes

Para além do limite do mar
Desabrocham das flores perfumes
Aromas que tudo alcançam
Em gotículas pelo mundo

Nesse nobre e sereno canto
A melodia em uníssono emitida
No terno abraço do sonho
Todas as cores enlaça
Desvanecendo o pesadelo
Que deste lado habita
Sob os muros d’água silente


Aqui, neste chão onde me sento
Entre raízes brancas e pretas
Sempre renasce a terra em silêncio
Quando, na turbulência do vento
As árvores seus braços pendem,
Se faça tarde e o sono aconteça
Pelas paragens do tempo

domingo, junho 18, 2006

Na Consistência dos Laços













Naquela tarde que Gaia vestia
Se abriram em palavras
Sorrisos francos, empatia
Novos laços criados
Reforço dos já antigos

Se letras o sentir espelham
A alma os olhos emitem…
Deslizando a hora pela sala
Como um tempo omitido
De doce saudade
Que Gaia vestia

Naquela tarde…



O meu sincero agradecimento ao Orlando, aos Amigos
antigos, aos novos lá presentes que tansformaram os
doces sorrisos em laços, pontes e traços, serenos e
profundamente sentidos.

quinta-feira, junho 15, 2006

Forma Circundante



Essa forma circundante que a palavra espreita
É vento, é chuva deslizando no parapeito
Das janelas em brisas cantantes

Essa forma circundante que olha, revê a estrada
É um esboço, um desenho em duas cores,
Uma tela sépia inacabada

Essa forma circundante que em beleza a mesclas
É um traço esvoaçante em asas doces e leves,
Um ciclo em véus de água

Sendo melodia, pó de estrelas, um vozear terno,
Ou dourada areia dançando nesse deserto,
Quedará sempre presente, constante,

Essa forma circundante

sábado, junho 10, 2006

s.t. - V

Leve….
Leve….
De uma doçura extrema
Da luz se fez o rasgo e a palavra
No epicentro da chama que te arde
Como sílabas espaçadas na roda dos ventos

Em desatino
Percorrem rios de lama dormente
Resquícios de lava solidificada
Na era dos tempos

Onde
A letra branca desmembrada
Em pontículos se abre e contempla
Essa luz que a serenidade aumenta

domingo, junho 04, 2006

O Condor














À noite voam palavras
Nas asas do condor silente
Como ventos
De amor e dor
Tão turbulentos
Que ninguém entende

Só tu que o silêncio habitas
E que nele rodopias
Descobres as pontes os laços
O caminho feito traços
Que a Verdade incauta desfia

No renascer de cada manhã
O condor nas suas asas
Sorve serenas palavras
Na brisa amena
De Luz e Paz

À noite voam palavras…

segunda-feira, maio 29, 2006

..............















Num contexto
Leve….ligeiro…
Desliza a letra
Musicalidades

Estendo os braços
Estico a palavra
Entre cordas e traços
Que espremo

Da uva o mosto
Retiro
Na água-ardente
Da mensagem

Mergulho serena
Nas barras
De código branco
Da minha água

sábado, maio 27, 2006

Nestas mãos
















No seio destas mãos que vês
Se abrem cânticos de luz
Nas singelas pequenas asas
Da borboleta delicada
Que ao silêncio conduz.

Serenamente
Enlaça o canto a Graça
No viajante solitário
Que de braços pendentes
Fatigado
Passa
E nestas mãos
Se move e
Abraça


(imagem de Ian Chang)

terça-feira, maio 23, 2006

Silêncio










Coroai-me de rosas
Coroai-me em verdade
De rosas -
Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se
Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves.
E basta.

(Ode de Ricardo Reis)



A ti, Fernando Bizarro
que tão cedo nos deixaste
o meu silêncio...
de Amizade imensa
nos laços de Fraternidade
criados.
Te ofereço rosas
de lágrimas.
Até Sempre

A Todos os que este grande Amigo desinteressadamente
juntou, o meu grande abraço solidário.

domingo, maio 21, 2006

Asas Lentas












Te vejo me vês entre insónias e afins
Te quedas na noite desperta
Me deito na dor de mim

Me prometo te prometes esquecer
Me encubro na descoberta
Te cobres desse viver

Teus passos meus passos são leves
Nessa areia que pisamos do deserto
Em profundas marcas... breves

Me remetes te remeto ao silêncio
Das letras móveis... paradas
Que contemplo e contemplas
No deslizar suave das águas
Encobertas pelo Tempo
Que o Tudo de Nada
Enlaça

Lentos são os movimentos
Das asas….


(pintura de Cruzeiro Seixas)

quarta-feira, maio 17, 2006

Dizem...


















Dizem
Que este coração é um velho pássaro
Esgotado no desdobrar a palavra do Ocaso

Dizem
Da sua procura incessante
Do indefinido limite entre céu e mar

Dizem
Do seu caminho aspergindo flores
Que a ternura abraça
E dos sorrisos que em favos de mel
Aninham brilhos claros


Mas quando
A aurora desponta e em seus braços o enlaça
Enche-se de sinos, de cantos
E renasce
Na acalmia da voz que lhe fala

segunda-feira, maio 15, 2006

Flores na neblina













Nas pérolas de prata que a lua espalha
Vagueio pelo infinito das cores
Das flores inclinadas descem orvalhos
Em cerejas transformados
Entre a neblina das dores
Que assisto e não alcanço
Por mais que me soe o canto
Neste coração de antanho

Uma menina dança em verdes prados
Que o sol aquece e ilumina
E entre as letras miudinhas
Paira o silêncio
Dos sorrisos doces
E ternos laços

domingo, maio 07, 2006

A Mata












Atravessei o rio
Cruzei a estrada
E a mata que à minha frente se abria
Vertia lágrimas de prata
Na neblina que dançava
Entre as árvores altas e finas

Adormeci no silêncio da mata
Mínima
Cansada

sexta-feira, maio 05, 2006

Leve...


















Leves são as letras que dançam
Na margem de cada vaga
Como pássaros luzindo ao fogo
Sereno
Nas gotas das suas asas

Leve é o sal que purifica
O fruto
Nos passos de música das águas
Como leve é o encantamento
Do barco seguindo a palavra

No pó de areia levita
E com ternura
O azul
Espalha

domingo, abril 30, 2006

A Casa da Árvore
















Suspensa numa árvore respira uma casa
pequenina insignificante indistinta tosca.
Aos olhos calados é uma casa lisa.

Da ranhura do telhado uma pena é vergada.
O peso da sombra das horas seus filamentos
espalha sobre o mato verde em escada.

Em surdina esboça uma cantiga de Maio
tímida.

Sobre as gotas de orvalho que a noite pende
deslizam pétalas de algodão doce em notas azuis
soltas pelo calor da manhã.

É uma casa singela navegando no silêncio
dos longos segredos enlaçados pelo mar.


O sonho encheu o dia de aromas
e iluminou de sorrisos ternos
um sereno despertar.

terça-feira, abril 25, 2006

Reflexo















Me vivo

Te vivo

Dos brilhos

No espaço

Silenciado

Serena

Brisa

De mim

sábado, abril 22, 2006

Diz...


















Diz-me
Sem que a voz te trema
O que cantam os poemas
Feitos de amor e saudade

Diz-me
Qual a verdade que espelhas
No voar de cada letra
Desfeita em liberdade

Longo é o caminho das pedras redondas
Depositadas no leito do rio
Que a corrente contempla e enfeita
De folhas, penas e limos
Elementos dos sentidos
Em cada dobra da margem
Que avisto

Diz-me
Do planar no silêncio sereno
Que sinto

Diz… apenas.

quinta-feira, abril 13, 2006

Em Tempo de Páscoa

Serena percorro espaços
Nesse tempo que não tenho
E em cada deslizar de letras
Vejo dúvidas ensaios frementes
Tecidos d’um vento em retalhos
Em ténues amantes brisas
Escondido

Todas as interrogações s’espelham
Nas palavras silentes que sigo
São procuras inclementes
De horas que não faz Tempo
Nem abrigo

De materialidade revejo sentidos
Passando entre pontos e traços
Incompreensões do momento
Que docemente enlaço
Em Paz, Luz e sorrisos.


P.S.: Com os votos de uma Alegre Páscoa
vos entrego com carinho
um voo de letras singelas
num poema antigo
feito de Amor e de Laços.

domingo, abril 09, 2006

Esse sentir... em menina

















Chegaste
Com o teu passo lento
Como se de água se tratasse
Aos meus lábios peregrinos
Ávidos de amor e de paz

Mostraste
Que a noite também tem brilho
E pelas espadas de fogo
Da voz se abrem caminhos

Indicaste
O amargo doce dos sonhos
Da transmutação dos ciclos
Que a Terra consigo traz

E quando
No seio das águas deslizo
No círculo da chama me fixo
Do deserto provo o sal
Entendo o canto
Suspenso
No pêndulo do tempo
No suave olhar da brisa
E esse sentir em menina
Que perdura sereno
Nos laços de um sorriso


(pintura de Claude Renoir)

quinta-feira, abril 06, 2006

As águas sob as pontes...


















Correm águas sob as pontes
Águas claras… escuras…
Ou se isolam
Ou se mesclam
Águas puras… impuras…

Seguem idênticos trajectos
Ondeantes… lineares…
Em sussurros de silêncio
Bradam esferas de vento
Sob as pontes
Pontes suspensas nos ares

Águas e pontes que vibram
Abalos fortes, serenos
Águas seguindo cantares
Pontes correndo...correndo
Pelos montes serras vales
Na margem de brilhos intensos

Sob as pontes as águas correm
Deslizando docemente
Transformam pérolas d’orvalhos
E correndo se enlaçam

No éter as pontes abraçam
Solidões das marés
Dos tempos
Suave
Serenamente…

Círculos














Iguais a tantos passeiam os dias
Em círculos abertos fechados
Trazem nas mãos candelabros
Solitários
Se quedam no sopé da pirâmide
Escalonada
No topo brilha uma nuvem doirada
Partículas de fogo
Que no azul espalha
Iguais a tantos passeiam os dias
Em círculos
Abertos...
Fechados...


(fotografia de Joseph Gerges)

segunda-feira, abril 03, 2006

A Sala


















Eram férteis os olhares murmurados
Beijos que a circunstância exigia
Se estava… não estava. Só sentia
Vindos de todos os lados
Naquele espaço fechado
Que a cobertura branca suspendia

Isolei-me no silêncio do fumo de um cigarro

Subitamente
O branco desceu pleno de brilhos
Intensos profundos
Na cumplicidade de um abraço apertado
Envolvendo móveis e gentes
Em formações cristalinas

Feliz e cansada adormeci leve
Nos ternos braços
De um doce sorriso


(pintura de Fazian)

quinta-feira, março 30, 2006

Mil águas...









Numa caixa empoeirada
Sob o telhado escondida
Memórias mil adiadas
Papeis, laços, cordéis
Telas de vento esmaecidas
Tintas em voos d’outrora
Que abro, devagarinho…

Ecoam restos na cidade adormecida
De noites longas e frívolas…
Nos olhos curiosos
Desfilam
As silhuetas delgadas
Que um tudo…
Nada viam

Deslizam mil águas sob as pontes
Em suaves murmurinhos…
E de quando em onde
De Bach entoam sonatas
Cadências rubras de linho
Deste Abril que se avizinha

Com ternura encerro a caixa
Que abrirei
Noutra altura
Noutro dia
Quando planar serena
Ao som do brilho da Lua


(Autor da imagem: desconhecido)

sábado, março 25, 2006

Quando a Terra Despertar...


















Serei a pedra, o sal, a água,
aquela palavra ausente
serena que o mal afasta
da calmaria das noites

A orvalhada, a neblina,
deslizando em ténues brilhos
no azul-negro da cidade

Lusco-fusco que se espalha
em traços curvas d’estrada
na solidão caminhante

Rio descendo a montanha
saltando escolhos veloz

O laço que se estende
no abraço, no instante,
da água que beija a foz

Serei a onda que grita,
no interior de nós,
a descoberta tardia

O amor, a liberdade, a paz,
cobrir-me-ão amanhã
quando a Terra despertar
para mais um dia
de intuições benditas
e o sorriso aclarar


(imagem recebida por mail sem indicação do autor)

Poema in "Transparência de Ser"

quarta-feira, março 22, 2006

Sem Título IV





Pintura de:
Tanja Hoffmann











Alguém corre pelo parque da cidade
Sob bátegas de chuva
Intermitentes

Uma voz se espalha nos telhados
Sonora, amplificada
Com sotaques diferentes
Invade intimidades
Dormentes
Desperta o silêncio de cada casa
Espaçada, muda
Nas deslizantes gotas do espaço

No lugar onde me encontro
Em acalmia profunda
Os dedos de uma criança
Tecem esboços leves, reflexos
Nos versos da esperança
Em danças inocentes
Amenas e puras

sábado, março 18, 2006

Cartas























Sentados, imóveis,
pendurados
na irreversibilidade do minuto

Rostos crispados
olhos estagnados
a concentração se impunha
nas mãos lentas
que em frente se moviam

Soletravam preces mudas
ao deus menor que a sina previa

Pela sala
sorridentes fantasmas
vagueavam murmúrios
em trajes de gala
com passos que veludo pisam

Lá fora
na noite escura e fria
Viena seguia outros traços
em iridescentes líricas

As cartas tinham sido lançadas…

A última palavra,
nas mãos lentas que afagavam,
ao croupier pertencia



(S. Mamede de Infesta – 17/Mar/2006)

Poema in "Transparência de Ser"

terça-feira, março 14, 2006

Mãos de Sombra


















Um abraço esperado
O brilho de um sorriso
Um olhar terno encantado
Uma palavra não dita
A mostra em matemática
Das paralelas da vida
Um sentar espaçado
Entre frases seguidas
Rasga-se um ventre
Em mãos caídas
Um apressar demonstrado
Um sol e a sua procura
D'um ar mais leve mais claro
Nas vozes que não se abrem
Tapadas em noite escura

Foi só um sonho, bem sei
Nas escassas horas dormidas
Um remexer de sentidos

Banhei-me em águas puras
Cristalinas
Vestida de branco saí
Para o Sol que m’ilumina

domingo, março 12, 2006

Momento














Sem dor angústia
Ou mágoa
Me fiz à estrada
Da vida
O vento sibilava espirais
No cabelo desalinhado
E se espantava
Furioso
Incontrolado
Pela calma que sentia

Aterrei em mansas águas
Onde planava o sorriso
Translúcido
Constante
Nesse branco que se via

Pela minha janela aberta
Espreita a constância
Em suaves brisas
Do caminho

Sou ave serena
Navio



(pintura de Dali)

quarta-feira, março 08, 2006

Cristais e Prata














Tilintam cristais em sinos de prata
Sussurros que a brisa afaga
Cada célula do caminho

Serenos são os brilhos que espalha
Voam mares em azuis cidades
No arco-íris constroem bases

Talvez dancem peixes em fogo-fátuo
Talvez espadas cruzem sentidos
Nada interessa quando é mútuo
O suave tilintar emitido
Vagueando no amor e verdade
Dos cristais em sinos de prata

quinta-feira, março 02, 2006

Sem Título III


















Te leio na esperança tardia
Deste amor e te enfeito
Dos brilhos da utopia
Serenos
Deslizantes em meu peito

Percorro aves navios
Carinhos que desconheço
E na saudade nos medos
Desfloram as flores dos dias
Omitidos
Se te leio

E quando a noite avança
Em cinza azul escarlate
É contigo que me deito
Voz silenciada que permeio
Dizeres que me cantava
Em morango e chocolate